segunda-feira, 6 de julho de 2020

E se a Internet falhasse


Quem já passou pela experiência de corte de eletricidade temporário é que, de repente, se apercebe do quão dependentes estamos da energia elétrica. Quando isso acontecia, uma das sensações mais estranhas era o facto de a televisão se desligar, o que se traduzia num silêncio estranho. Numa era ainda pré-internet, em muitos lares seria um evento raro de repente a ausência do barulho de fundo da TV. De repente, era preciso falar para preencher esse vazio.
Imaginemos que, por algum motivo – seja um ataque, seja censura, seja uma dificuldade técnica – a Internet e os serviços que usamos diariamente ficassem inacessíveis. De outra forma, se a Internet fosse desligada, o que mudava no nosso dia-a-dia?
Algumas experiências que desafiam as pessoas a passar pontualmente algum tempo desconectados têm mostrado que o dia se torna mais produtivo, o estudo rende mais e se torna mais simples estar concentrado numa determinada tarefa. Como resultado dessas experiências, alguns alunos referem inclusivamente que se torna mais simples estudar.
Não deixa de ser curioso que ferramentas que usamos para aumentar a produtividade no trabalho ou melhorar a aprendizagem possam, na verdade, ser disruptivas dessas mesmas tarefas.
A própria comunicação entre as pessoas quando não há Internet disponível não é atrapalhada tão facilmente. Novamente, os media sociais que nos põe supostamente em contacto com os outros podem na verdade ser empecilho para estabelecer relação com aqueles de quem estamos mais próximos fisicamente.
Sabemos que muitas crianças têm dificuldade em estar nas aulas sem possibilidade de ver o seu telemóvel. Mas esta dependência de estar conectado não acontece só com os mais novos. Algumas empresas têm incentivado os seus colaborares a adotarem posturas a que chamam, por exemplo, ‘be here’, algo como, está presente!. Isso passa por estar em reuniões sem consultar computador, tablet ou telemóvel.
Em contexto familiar, pode ser um desafio interessante passar algum tempo sem qualquer acesso à Internet e aproveitar para fazer atividades que não envolvam ecrãs digitais.
Outra atividade que ajuda a ganhar consciência sobre o impacto das tecnologias em sociedades de países desenvolvidos é imaginar um mundo em que a Internet nunca tivesse existido. Por exemplo, elencar uma lista de palavras, figuras públicas, atividades, aparelhos e profissões nunca teriam existido, caso a Internet não tivesse sido inventada. Email, Like, Wikipédia, YouTube, iPad, Facebook, WhatsUp, teriam certamente de estar entre as palavras. Mas quantos outras se incluiriam nesta lista?
Voltando ao exemplo dos alunos que foram desafiados a passar algum tempo desconectados, no final da atividade a maioria referiu que não voltariam a essa experiência voluntariamente. Ainda que percebendo os benefícios, no geral preferimos beneficiar do potencial que a Internet nos proporciona, seja para trabalho, estudo ou lazer. Por isso, esta hipótese académica de a Internet deixar de existir, que se mantenha apenas no domínio do “e se...”. No entanto, atividades como as que aqui se sugerem podem ajudar a ganhar alguma consciência sobre os impactos dos meios digitais nas mais variadas dimensões da nossa vida.

Luís Pereira

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